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O medo é amigo ou inimigo das crianças? Veja dicas de como lidar com o tema

O medo é amigo ou inimigo das crianças? Veja dicas de como lidar com o tema

Muitas situações do nosso momento atual podem desencadear essa emoção que chamamos de medo — afinal, ele está associado ao nosso instinto de sobrevivência. Podemos temer um assalto, um acidente no trânsito, a perda de algum ente querido pelo covid-19 ou até mesmo coisas mais simples como o escuro, uma injeção e insetos.

Com as crianças não é diferente, e sabemos que todos os pais, em algum momento do desenvolvimento de seus filhos, tiveram de lidar com situações de medo. 

Ainda estamos vivendo esta pandemia, e tantas informações em rádios, TV e mídia digital afetam a estrutura familiar e as crianças. Angústias e medos podem ficar exacerbados. 

Não podemos esquecer a realidade interna, aquela ligada às fantasias e ao imaginário da criança, que gera, em várias situações, ansiedade e medo. E é lidando com a realidade externa e a interna, repleta de emoções e sentimentos, que precisamos oportunizar que nossos filhos aprendam, conheçam, e nomeiem as emoções.

Esse sentimento, que funciona como um alerta e uma proteção, é a primeira manifestação da criança de perceber-se diferenciada da mãe, de tomar consciência de si como um ser único. Mas deve haver uma "medida certa".

 

 

A aprendizagem de habilidades emocionais nunca foi tão necessária. Começa desde muito cedo, já na primeira infância. Tais habilidades emocionais serão fundamentais para as futuras relações e para que possam melhor enfrentar as adversidades deste cotidiano tão diferente que se apresenta  hoje em dia.

Acredito que é na primeira infância mesmo que começamos esta construção e desenvolvimento. Os profissionais da educação e da saúde mental nunca tiveram tanta oportunidade para abordar as competências emocionais das crianças, independentemente da sua faixa etária. E aqui gostaria de trazer algumas reflexões sobre o medo. Esse sentimento que vivenciamos desde cedo e que é tão natural na infância funciona como um alerta e uma proteção. Entendemos o medo como um bom sinal, pois é a primeira manifestação da criança de perceber-se diferenciada da mãe, de tomar consciência de si como um ser único. E é a partir do reconhecimento de si mesmo que vai começando a trilhar os caminhos para crescer e se desenvolver, tornando-se independente dos pais, que são seus primeiros objetos de inter-relação social. 

Isso é lindo de observarmos ao longo do desenvolvimento infantil, pois os medos vão permeando o crescimento dos nossos filhos, à medida que amadurecem, e suas ansiedades e seus desafios vão se modificando por conta das demandas da sua idade. Cabe a nós, pais e educadores, podermos assegurar um ambiente emocional seguro e afetivo. Afinal, somos o porto seguro das nossas crianças, por mais medo que essa responsabilidade nos dê, não é verdade?  

Vale dizer que nem sempre os temores das crianças têm uma ligação direta com a realidade. Eles ganham sentido pelos significados que nossos pequenos criam, por conta de sua fantasia e criatividade, o que faz parte de um processo de aprendizado próprio. Até os três anos, por exemplo, observamos medos ligados a barulhos, a pessoas estranhas, trovões, separação e distanciamento da mãe e do pai. Mais tarde, entre os três e seis anos, os medos vão ficando mais concretos a pessoas fantasiadas, personagens, monstros, escuro, ficar sozinho e até mesmo a morte dos pais. Tais medos formam parte do desenvolvimento normal e são esperados na primeira infância. Precisamos fazer a escuta desses temores infantis com bastante segurança e acolhimento, permitindo que a criança possa falar e expor seus medos, sem serem minimizados ou desvalorizados pelos adultos. Precisamos entender que existe sofrimento e bastante ansiedade na criança. Contudo, salientamos que mesmo fazendo parte do desenvolvimento infantil, o medo na infância também precisa de "uma medida certa", sabe?!

 

Dependendo da intensidade e da frequência com que se manifesta nos nossos pequenos, pode ser indicativo para buscarmos ou não ajuda profissional . É bem importante ficarmos atentos a essa medida, pois o sentimento de medo não deve interferir nas atividades do cotidiano da criança nem impedi-la de brincar ou interagir ou de conviver com os demais colegas na escola, ou mesmo com os familiares em casa. Cabe a pergunta: minha criança está deixando de fazer algo que gosta por conta deste medo? O medo exagerado pode desenvolver transtornos de ansiedade ou fobias se a criança não receber o cuidado necessário? A linha que separa esse medo natural de uma fobia é muito tênue, varia de criança para criança e depende dos recursos emocionais de cada uma. O fundamental é que pais e professores estejam atentos a esse limite e observem as possíveis mudanças no comportamento da criança.

Dois tipos de medo

Costumamos explicar para as crianças e famílias que existem dois tipos de medo. Primeiro é aquele medo que nos protege de algo. Depois tem aquele medo exagerado ( que pode ser patológico), que é o medo que nos impede de fazer o que queremos, e atrapalha no nosso dia a dia, que ao invés de nos proteger, acaba nos atrapalhando nas nossas atividades diárias.

Nas escolas ou no consultório, gostamos de indicar às famílias e aos educadores o uso de histórias sobre o tema. Algumas histórias infantis costumam abordar de forma bem direta e outras de modo mais sutil, deixando sua mensagem nas entrelinhas para o trabalho do adulto. Entre tantas obras, podemos sugerir uma série escrita por Ruth Rocha e Dora Lorch chamada Quem Tem Medo de Quê?, que pode ajudar a criança a falar e encarar essa emoção. São livros que abordam os sentimentos daqueles conteúdos mais íntimos da criança, como o abandono, ou ainda aquele medo de ir ao dentista ou em relação a algum procedimento ou cirurgia que a criança vá enfrentar. Para essa abordagem, podemos recorrer ao Será que Vai Doer? ou O Segredo do Medo, de Tonia Casarin. Para aqueles medos de fantasmas e bichos que não existem, mas que fazem parte do imaginário infantil, sugiro O Medo que Mora Embaixo da Cama, de Mariza Tavares, ou Fantasma Existe?, de Ruth Rocha, e ainda Monstrinho do Medo, de Tonia Casarin. 

Através desses recursos, podemos oportunizar às crianças perceberem que não são as únicas a sentir determinada emoção e criar momentos de diálogos de forma lúdica para serem acolhidos. Assim conseguimos, também, ouvir as crianças em suas "argumentações", permitindo que expressem o que estão sentindo ou imaginando, podendo ajudá-las a elaborarem seus medos, que irão paulatinamente — cada qual em seu ritmo  e tempo — diminuindo em sua intensidade e até mesmo desaparecendo com a  maturidade.

Quatro filmes que podem ajudar

Pixar / Divulgação

As emoções de "Divertida Mente" (2015): Medo, Raiva, Alegria, Tristeza e NojinhoPixar / Divulgação

O medo está ligado as noções de preservação e, com certeza, é uma das principais emoções que propulsionam nossa conduta humana. Presente em nossas vidas desde a infância, permite que a criança desenvolva noções de perigo nas relações com o mundo externo, e é por isso que o encontramos na maioria das narrativas de histórias e filmes infantis. Contudo, há aqueles em que essa emoção é priorizada no enredo:

Monstros S.A. (2001)

Disponível na plataforma de streaming Disney+, já é um clássico da Pixar. O desenho animado aborda o maior de todos os medos infantis: monstros. Os personagens Sulley (grande, com chifres e pelo azul) e Mike (uma espécie de bola verde com um olho apenas) têm a missão de assustar a população infantil para gerar energia em seu mundo. A graça é que, ao conhecerem a menininha Boo, eles descobrem que fazer as crianças rirem é muito mais vantajoso. Ótimo para ser visto em família, o filme emociona também por valorizar a amizade, vital para superar vários desafios.

O Menino e o Mundo (2013)

Esta animação brasileira fala do medo da perda do pai. Narra a história de um menino chamado Cuca que está a espera do retorno do seu pai, que partiu para a cidade grande em busca de novas oportunidades. Com apenas uma foto da família na mala, Cuca resolve sair de casa em busca do pai, sempre guiado pelo som da flauta que ele tocava, passando por várias descobertas em uma jornada cheia de fantasias e cores, trazendo muitas emoções e reflexões à tona. Disponível em Apple TV e NOW.

Divertida Mente (2015)

Neste filme da Pixar em cartaz no Disney+, o desenvolvimento das habilidades emocionais da criança é abordado de forma muito lúdica. A protagonista, Riley, 11 anos, vivencia cinco emoções básicas a partir da mudança de sua família do frio Estado de Minnesota para a ensolarada Califórnia: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo. A personagem percebe que a principal função do medo é justamente protegê-la e mantê-la em segurança. A animação também mergulha no processo de construção da memória.

O Bom Dinossauro (2015)

Também da Pixar, também disponível no Disney+, trata do medo do desconhecido, da falta de confiança em si mesmo e da capacidade de socializar através da empatia e companheirismo. O desenho conta a história de um pequeno, tímido e medroso apatossauro, o Arlo. Ele faz uma viagem por paisagens lindas, coloridas, montanhosas e misteriosas, nas quais ganha um pequeno amigo, Spot. Os dois são arrastados pela correnteza de um rio durante um temporal. A grande lição do filme é não se deixar vencer pelo medo do mundo ou de novas situações, mesmo quando nos sentimos fracos ou inseguros. 

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